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quarta-feira, 26 de abril de 2017

Viva: um trabalho de dedicação

Eu, Taissa, gravo um depoimento especial para todos que me acompanham (Filmado por Renato Saraiva)

Uma manhã chuvosa de domingo no coração da comunidade do Borel, na Zona Norte do Rio. Poderia ser um dia de preguiça, para tirar umas sonecas ou arrumar a casa. Mas cerca de 15 voluntários acordaram com ânimo para fazer daquele dia escuro uma luz na vida de 50 crianças.
Às 7h, Andressa Pomeroy, de 21 anos, acorda para mais um dia de ação do projeto Viva. Em Ipanema, ela se encontra com outros participantes para pegar o transporte até o Hillel Rio, localizado no bairro da Lagoa, organização judaica sem fins lucrativos responsável pelo projeto. Esse é o ponto de encontro de onde partem todos os veículos até o bairro da Tijuca.
O caminho não acaba aí. Chegando próximo à comunidade, uma kombi leva os jovens ao local, onde fica o Roda Viva, espaço em que são realizadas as atividades.
Há dois anos é esse o planejamento da estudante de odontologia a cada quinze dias. Segundo ela, o trabalho preenche, com muito amor e carinho, a vida das crianças, mas também nutre a alma dos voluntários.

                                       Andressa demonstra seu amor pelo projeto (Filmado por Taissa Kac)

Educação e brincadeiras em um só lugar
Em uma área extensa, com um pátio externo e duas salas, os pequenos tem à disposição diversos tipos de entretenimento no Roda Viva. A imaginação infantil ganha a forma de desenhos e pinturas, que são expostos no salão interno, local em que eles têm o primeiro contato com o tema e a reflexão do dia.
As crianças participantes têm entre um e treze anos de idade. Os monitores, de 18 a 26 anos, não precisam ser necessariamente profissionais de nenhuma área específica nem ter a obrigação de comparecer todos os dias. Os encontros são realizados sempre das 9h às 12h. Na semana da atividade, é realizada uma reunião preparatória com os voluntários no Hillel para a organização das atividades.
Elissa faz atividade de leitura com as crianças (Foto: Taissa Kac)

O convívio dos voluntários com as crianças é um aprendizado mútuo. Elissa Griner, de 20 anos, destaca que o contato com uma realidade tão diferente da que vivem causa um choque nos monitores e os faz crescer ainda mais como seres humanos.

Eu me sinto muito bem no Viva. É bom para se dedicar, nem que seja um dia da semana para focar em uma outra pessoa. E você ver o brilho dos olhos delas, os sorrisos, brincar e dar atenção a elas. Você vê que aquilo faz uma diferença tanto em termo de conteúdos que a gente passa quanto em termos de atenção, principalmente. É uma energia muito boa você estar lá! As crianças têm uma inocência, uma ingenuidade que te fazem sair de lá mais leve”, afirma.

Nem tudo são flores, mas pode gerar frutos
Nos dias úteis, um grupo de crianças vai ao Roda Viva para também ter aulas de reforço escolar, informática, arte e esporte. Apesar de ser um lugar que preza pela harmonia, noções de respeito e educação são importantes para alguns pequenos que não tiveram uma base familiar sólida. “Há dois grupos: um pela manhã e outro à tarde. A maior dificuldade é dar conta de todos, pois além de serem muitos, a diferença de idade contribuiu bastante para brigas, principalmente envolvendo violência e xingamentos, que não deixa de ser o que eles veem em casa”, conta a cozinheira do Roda Viva, Julia Evangelista de Souza, de 57 anos.
Mais conhecida como Dona Julia, ela diz que apesar das confusões, as atividades diárias junto com o projeto vêm contribuindo muito para o aprendizado dos jovens. “Percebo que eles estão ficando mais educados, respeitando mais os outros e absorvendo melhor a proposta que tentamos passar a eles e fico muito feliz com esse amadurecimento. Observar essas mudanças significativas e ver que nosso trabalho está sendo bem feito e alcançando o esperado é gratificante para continuarmos ainda por muitos anos”, disse.
O jovem Pedro em uma brincadeira com os pequenos (Foto: Taissa Kac)

            O economista Gabriel Rehfeld, de 24 anos, lembra que, mesmo com defeitos, o projeto é importante para ajudar, ainda que minimamente, os pequenos. “Acredito que o projeto em si tem uma proposta bacana de dar carinho e atenção a elas. Muitas vezes não encontram esses afetos na própria família. Mas, na minha opinião, as crianças absorvem o conteúdo superficialmente e acabam não levando os ensinamentos para dentro de casa. Pelo que observo, os resultados devem surgir a longo prazo, o que não desmerece, de maneira alguma, o bonito trabalho”, justifica.

Décadas de história
A ação social começou itinerante, com o nome “Projeto Sorriso”, cujo objetivo era oferecer às crianças de diversas comunidades as ferramentas necessárias para obtenção e manutenção da saúde bucal, através da informação, motivação, contato direto com técnicas corretas da higiene oral e criação de hábitos alimentares saudáveis. Ao longo de dois anos, os voluntários adquiriram um carinho especial pela comunidade do Borel e decidiram se dedicar somente a esse local, expandindo o foco para outros trabalhos, como orientação de pessoas em situação de drogadição, respeito às diferenças, prevenção de doenças e educação sexual.
As condições de moradia e saneamento na localidade também eram muito precárias. O cenário chamou a atenção dos voluntários do Projeto Viva, que se uniram para mudar o que poderia ser um futuro cruel para as crianças.
Dessa forma, o Roda Viva se tornou um espaço de desenvolvimento de brincadeiras e muito aprendizado. A organização não governamental, criada em 1988, contribui na garantia de direitos e inclusão social, através de educação complementar que auxilia na formação profissional e no desenvolvimento de cidadania da população local.
Para o jovem Pedro Aronovich, de 23 anos, fazer parte do trabalho é um verdadeiro crescimento como ser humano.

            Pedro ressalta os benefícios de participar do Viva (Filmado por Taissa Kac)

Através da instituição Tzedek, que em hebraico significa justiça, o projeto Viva possui mais quatro programas, que beneficiam crianças, jovens e idosos. O maior objetivo é transformar o mundo em um lugar melhor, com atuação nas áreas de saúde, educação e apoio à idosos.


As atividades diárias, em união com o projeto, contribuem muito para o aprendizado dos jovens, tornando-os mais educados, com respeito ao próximo, e atentos aos assuntos abordados. Mudanças significativas podem ser vistas a partir dos trabalhos desenvolvidos. A recompensa? Os sorrisos de um futuro repleto de esperança.

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